O Parque de Mariposas, situado no Cemitério Municipal Nuestra Señora de la Almudena em Madri, na Espanha, oferece um espaço de acolhimento para pais que sofreram perda gestacional ou de recém-nascidos. Este local permite que as cinzas dos bebês sejam espalhadas gratuitamente em um canteiro de rosas brancas, com a opção de adquirir um nicho em um columbário.
Erika Menezes, doula brasileira, enfatiza: "É importante reconhecer que essa criança já existia no imaginário da mãe antes mesmo de nascer. Criar esse tipo de espaço físico ajuda a elaborar esse luto perinatal. Um lugar para honrar a memória dessa criança que partiu." Juliana Leister Raya, que passou por uma perda gestacional de 13 semanas, considera o espaço acolhedor: "Acho muito acolhedor contar com um lugar assim que só tem bebês estrelinhas."
No entanto, a desinformação ainda prevalece, como destaca Juliana sobre sua experiência em Madri: "Eu não sabia que existia essa possibilidade. Se eu soubesse, teria pedido sim. Na hora eu até perguntei se depois eles iam me dizer pelo menos o motivo da perda, mas me disseram que nem isso era possível." Gláucia Menezes compartilha sua frustração: "Eu não sabia que poderia receber esses restos mortais. Ninguém me falou sobre isso. Se eu tivesse essa informação, teria escolhido essa opção. Me senti um pouco lesada por não saber."
A doutora Rita María Regojo, patologista do Hospital Universitário La Paz, destaca a necessidade de humanização no atendimento: "Antes de tudo é importante dar tempo aos pais e explicar bem o que vai acontecer quando o feto sem vida for retirado do útero. É preciso deixar que eles possam passar um tempo com o corpo da criança." Ela também defende a criação de memórias físicas: "Ao ter poucas lembranças e experiências com o bebê, a sociedade não reconhece esse luto como algo realmente doloroso."
Apesar de alguns avanços na discussão sobre o luto perinatal, ele ainda é tabu para muitos, como comenta Juliana: "Algumas mulheres contam pelo que passaram mas só depois que já tiveram outro filho. Vejo que algumas pessoas ainda não falam da dor realmente, do luto de algo que não veio, do luto de uma expectativa. É muito esquisito porque essa perda é um luto do futuro." Erika Menezes ressalta: "Vejo que a sociedade não valida essa dor quando alguém diz frases que podem machucar: você é jovem ou fica tranquila que logo você vai ter outro filho."
A goiana Ângela Nery Soares, que enfrentou duas perdas, encontrou conforto através de rituais: "A maneira como eu enfrentei essa perda e tive a sorte de contar com a ajuda da minha psicóloga foi fazendo um ritual de integração dos meus dois bebês, cheguei até a dar nome a eles e também escrevi cartas. Assim eu consegui me conectar com eles e mantive os dois vivos na minha história."
Juliana, que mora em Madri há seis anos, celebra a criação do Parque das Borboletas e a importância de grupos de apoio: "Quando perdi meu bebê fiquei três semanas de cama e até hoje eu choro por essa perda. Conversar com outras mulheres que passaram por isso ajuda muito."
Fonte/Créditos: Com informações da BBC
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