A crença na visitação extraterrestre está em ascensão: pesquisas indicam que cerca de 7% da população britânica e 24% da americana afirmam já ter visto um objeto voador não identificado. Nos Estados Unidos, subiu de 20%, em 1996, para 34%, em 2022, o número de pessoas que acreditam que os avistamentos de óvnis fornecem evidências de vida fora da Terra.
Essa tendência tem atraído a atenção de especialistas como o filósofo escocês Tony Milligan, do King's College London, que destaca preocupações sobre seus impactos sociais e políticos.
Mais do que uma questão de especulação, Milligan argumenta que a crescente popularidade das teorias sobre alienígenas e óvnis é um problema social relevante. De acordo com ele, essas crenças alimentam teorias da conspiração que podem minar a confiança nas instituições democráticas e provocar distúrbios sociais.
Para grande parte da população estadunidense, por exemplo, o governo estaria escondendo informações relacionadas a óvnis. Em 2019, uma pesquisa revelou que 68% dessas pessoas acreditavam que seus dirigentes sabiam mais sobre os fenômenos do que divulgavam.
A influência dessa crença se espraiou pelo cenário político do país. Ao longo das décadas, Jimmy Carter, Bill Clinton e outros presidentes fizeram promessas ligadas à divulgação de informações e documentos sobre óvnis, e o senador Chuck Schumer apresentou, em 2023, um projeto de lei para revelar alguns registros de Fenômenos Anômalos Não Identificados (em inglês, Unidentified Aerial Phenomena, UAPs). Até agora, contudo, não foram apresentadas evidências de contatos extraterrestres.
Ciência e cultura são também impactadas. A astrobiologia, campo do conhecimento que investiga a possibilidade de vida em outras partes do universo, enfrenta uma competição desleal com o entretenimento sobre óvnis.
O History Channel, que exibe regularmente programas sobre "alienígenas antigos", soma 13,8 milhões de assinantes, ao passo que o canal de astrobiologia da NASA não tem mais do que 20 mil. Trata-se de um desequilíbrio de atenção que pode, segundo Tony Milligan, prejudicar a comunicação científica legítima e a compreensão pública da astrobiologia.
Além disso, as narrativas ligadas a alienígenas têm invadido e distorcido a história e a mitologia de povos originários. Um exemplo é a queda de um meteorito na região siberiana de Tunguska, em 1908, que foi reinterpretada como resultado da explosão de um motor de espaçonave alienígena, e alguns ufólogos misturam relatos indígenas com ficção para promover suas teorias.
Na esteira desse fenômeno, a preservação de tradições e histórias autênticas, como os contos antigos das Plêiades, é ameaçada.
O pesquisador adverte ainda que o excesso de foco em teorias da conspiração e narrativas de visitação extraterrestre pode levar a um enfraquecimento das instituições democráticas e fomentar comportamentos radicalizados. Casos recentes, como o da invasão do Capitólio dos EUA em 2021, demonstram de que maneira as crenças partem das especulações para ações concretas.
Junto com outros especialistas, Milligan pondera que é fundamental abordar essas questões com rigor e ceticismo, para evitar que a desinformação e as teorias conspiratórias prejudiquem a compreensão científica e a coesão social.
Fonte/Créditos: Com informações de Tony Milligan / The Conversation
Créditos (Imagem de capa): Getty Images